quinta-feira, março 24, 2005

 

Porque ontem foi terça-feira

A questão do aborto só admite duas possibilidades, a primeira é a de que o feto é realmente um ser humano, e portanto a interrupção voluntária da gravidez é um crime, ou o feto não é considerado um ser humano, e neste caso, pode ser eliminado em qualquer altura. A ideia de que é impossível saber quando se inicia a vida humana, é uma questão meramente moral ou filosófica. Hoje é consensual para a maioria dos cientistas de que a vida começa no zigoto, que resulta da fecundação do óvulo pelo espermatozóide. No entanto, há quem defenda que a vida só começa com a nidação, ou seja, no momento em que o óvulo fecundado se liga efectivamente à parede do útero, possibilitando a nutrição do zigoto que só assim pode evoluir para embrião, a qual ocorre 1 semana após a fecundação. Aliás, só com base nesta argumentação é que a pílula do dia seguinte pode ser legal, num país em que o aborto não é. Penso que esta análisa deixa clara a resposta à questão inicial. Aceitar o aborto como um método de controlo da natalidade, é validar a irresponsabilidade na gestação. Parece-me obvio, ser urgente resolver as questões que estão na origem deste fenómeno e isso passa necessariamente pela educação e pela prevenção; até porque hoje uma gravidez não planeada representa riscos acrescidos, como a infecção com o HIV. Há seguramente mais de 10 anos que se discute o problema do aborto em Portugal, e o planeamento familiar não é ainda uma realidade. As soluções de recurso trazem problemas adicionais. Os hospitais públicos tem listas de esperas de 6 meses para operar uma cirurgia simples, e portanto, ou se dá prioridade à interrupção voluntária da gravidez, e com que critério, ou vai ter que se criar toda uma estrutura para esta finalidade. E mais uma vez, com que critério, se existem áreas da saúde extremamente carenciadas por incapacidade do nosso sistema de saúde. Isto, eliminando a versão mais hipócrita, que é da gravidez indesejada acabar por se concretizar, por questões de demora. Será que as vitimas nestes casos vão ser indemnizadas? Por falar em questões jurídicas, a despenalização do aborto dá espaço a verdadeiros híbridos, como a criança concebida e não nascida é, por um lado, sujeito legal (pode herdar, tem direito a indemnização caso lhe seja provocada deficiência durante a vida embrionária), e por outro é permitido tirar-lhe a vida, como se verifica em alguns países onde o aborto é legalizado. Sinceramente e sem quaisquer demagogias, não critico, nem censuro, quem em consciência, decidiu o que quer que seja na sua vida privada. Aquilo de que falo, é da resolução dum problema social, e esse sim público, que é o da gravidez indesejada, quando penso ser consensual que a maternidade (paternidade) deveria ser planeada. Se a minha visão da realidade é de direita ou de esquerda, interessa-me muito pouco, aliás como todo o tipo de adjectivação. Provavelmente por isso sempre me fascinou muito mais a fisiologia do que a sistemática.




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