quinta-feira, março 31, 2005

 

Turismo no céu


Uma crónica de Francisco Menezes
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Uma vez apanhei um voo internacional, em que o piloto era Português (o nome e o sotaque não deixavam enganar). Estava uma tempestade de criar cabelo no Toni Carreira, e os passageiros estavam todos um bocado nervosos. O comandante achou então por bem acalmar os ânimos. Começou a habitual descrição do percurso até ao destino (como se um de nós, não concordando, pudesse sugerir alternativas), e rematou com um firme: “ladies and gentlemen, in 2 minutes we’ll be in heaven” (!!!). Apesar de disparatada, a declaração deste calhau com olhos tinha uma ideia engraçada: e se pudéssemos todos apanhar um avião para perto de Deus? Turismo no céu, ora aí estava uma boa ideia…
“Duas semanas no céu, com meia pensão, a partir de 500 euros por alma. Desconto para crentes, inválidos e o Tino de Rans”. As agências de viagens iam fazer os folhetos mais foleiros de sempre. Imagens do Roberto Carlos a passear de calças arregaçadas no pólo Norte, com versos escritos pela Cristina Caras Lindas.
Os católicos iam deixar de ir à missa. Porquê gastar uma hora todos os Domingos, quando se pode falar directamente com Ele, na férias do verão? Os ateus iam ter a melhor desculpa do mundo para, no fim das férias, não pagar.
Os turistas iam andar por toda a parte, de câmaras de vídeo e fotográfica de fora, ansiosos para chegar a casa, e poder dizer a alguém da família :”estás a ver? Olha eu aqui ao pé de Deus! Estava um calor, nesse dia! Até Ele cheirava a suor! Pena que as fotografias ficaram tão claras…” Era uma oportunidade única para outros poderem conhecer o Céu por dentro - O demo e seus ajudantes, assassinos, ladrões, dirigentes desportivos – todos a viajar na classe executiva.
As companhias de aviação, como de costume, iam fazer overbooking. De cada vez que ficassem passageiros retidos no céu, lá ia um jornalista ao local, fazer uma reportagem que ia parecer mais uma edição do “Elas em Marte”.Os empresários de turismo do Algarve queixar-se-iam de concorrência desleal, com toda a justiça. Comparar maior parte do turismo do Algarve com qualquer coisa superior a um esgoto, é desleal.
Chegou ao fim, o meu voo. O sacana disse outra calinada qualquer, quando aterrámos, mas felizmente, não fomos parar ao “heaven”. As hospedeiras (ou assistentes de voo, como lhes chamam agora) parecem uns anjos, apesar de basicamente serem empregadas de mesa nas altitudes. Eu fiquei com uma mini história que na altura não valia um chavo, e agora me vale uma crónica. Que, como já se percebeu, não vale um chavo.



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